Berlim (EFE).- O presidente da França, Emmanuel Macron, pediu nesta segunda-feira à Europa que faça uma “revolução copernicana” e crie nos próximos meses um novo marco comum de segurança e defesa para o Velho Continente, sem olhar apenas para os Estados Unidos.
“Vivemos juntos em um único continente. Hoje, a Rússia também ameaça nossa segurança. A Rússia atacou a Ucrânia e pode estar aqui amanhã ou depois de amanhã”, declarou durante discurso na cidade de Dresden, no leste da Alemanha, sobre o futuro da Europa.
“E estamos em um momento em que temos que garantir nossa própria defesa e segurança como europeus, como aliados, como aliados da Otan, como União Europeia, mas também como membro da Comunidade Política Europeia”, ressaltou o primeiro presidente francês a fazer uma visita de Estado à Alemanha em 24 anos.
Macron argumentou que a Europa deve ser capaz de cuidar de si mesma porque tem sua própria história e sua própria geografia.
Ao discursar no “Festival da Democracia” em um pódio em frente à Frauenkirche em Dresden, que foi bombardeada pouco antes do fim da Segunda Guerra Mundial, ele argumentou que “a verdadeira reunificação ou unificação da Europa só será concluída quando nós mesmos tivermos estabelecido essa estrutura de defesa e segurança europeia”.
“Este é o desafio dos próximos anos”, enfatizou aos jovens europeus e ao presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier.
Macron, que escolheu Dresden para fazer seu discurso devido ao simbolismo que ela representa, afirmou que, por todas essas razões, “é necessária a oportunidade de definir essa estrutura como europeus novamente nos próximos meses”.
Em sua opinião, a Europa terá que responder a perguntas como “quais são os riscos, os perigos, quem são os inimigos, de onde podem vir os perigos, da Rússia, de outras potências, como se relacionar com os vizinhos, como construir a segurança e dentro de qual estrutura”.
“Temos que desenvolver um novo conceito de segurança comum. E essa é a base sobre a qual decidiremos sobre as capacidades, os meios de que precisamos, os projetos que são necessários, os projetos tecnológicos que devemos desenvolver como europeus”, declarou.
Macron advertiu que, ao lidar com essa questão, a Europa não deve “cair na armadilha de se tornar nacionalista ou olhar apenas para os EUA”.
“Devemos agir de forma decisiva como europeus”, insistiu o chefe de Estado francês, ciente de que não será fácil conseguir a adesão de todos os países europeus, inclusive da Alemanha, à sua ideia.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, com quem Macron se reunirá na terça-feira em Berlim, considera que, em meio à guerra na Ucrânia, não é o momento de “se tornar independente” dos EUA, apesar do risco de que o candidato republicano nas eleições presidenciais, Donald Trump, que prega a não defesa dos aliados da Otan que não cumprirem as metas de gastos com defesa, possa voltar à Casa Branca.
“Sim, é uma revolução copernicana construir essa nova estrutura de segurança e defesa como europeus”, reconheceu o presidente francês.
No entanto, ele pediu que o continente desenvolva os conceitos, a estratégia, as capacidades militares, os armamentos, a tecnologia, a energia e, em suma, “tudo o que contribui para tornar a Europa mais soberana e independente, uma Europa capaz de se defender, uma Europa que pode enfrentar qualquer ameaça”.
“É isso que temos que construir agora, essa é a Europa da paz e da segurança comuns que temos que construir juntos”, enfatizou Macron.
O presidente francês disse que a Europa é uma garantidora da paz, mas que para muitos esse conceito parece antiquado, porque eles não viveram duas guerras mundiais e sempre conheceram a paz, mas, lembrou ele – especialmente os jovens na plateia – “hoje a guerra voltou” ao continente por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia.
“A Rússia de Vladimir Putin pisou nos pés da Carta da ONU e atacou a segurança de todo o continente”, declarou.
“A guerra da Rússia é naturalmente uma guerra que afeta nossos amigos ucranianos em primeiro lugar, mas o que está em jogo na Ucrânia é também a segurança da Europa”, reiterou Macron, além de enfatizar ainda mais a razão de ser de sua proposta. EFE